![]() |
Neste domingo nível do rio marcava 0,6 centímetros, em Fragosos FOTO: Piên em Notícias |
O velho e imponente Rio Negro, que por anos desceu com força pelas montanhas do Quiriri, cortando a divisa entre Paraná e Santa Catarina, agora pede socorro. Conhecido por sua potência nas grandes cheias que marcaram época em localidades como Fragosos e Paranazinho, o rio vive mais uma vez um dos períodos mais críticos de sua história recente.
Neste domingo (27), a equipe do Piên em Notícias esteve nas réguas de medição em Fragosos e constatou uma cena que se repete com frequência nos últimos anos: a água desaparecendo. O nível do rio marcava apenas 0,6 centímetros – um número preocupante e semelhante ao registrado durante a severa seca de 2020, considerada até hoje a mais intensa da história do Rio Negro.
Em vários pontos ao longo do leito do rio já é possível atravessar de uma margem a outra com a água batendo apenas nas canelas. A fluidez corrente do rio dá lugar a poças e filetes tímidos, com pedras e bancos de areia aparecendo cada vez mais.
Embora o mês passado tenha trazido um breve alívio com alguns dias de chuva, o cenário voltou a se agravar rapidamente com a volta do tempo seco. Moradores ribeirinhos que conversaram com nossa reportagem demonstraram apreensão. “Se não chover logo, o rio vai voltar a ficar como em 2020, praticamente seco”, disse um morador que vive às margens do Negro há mais de 40 anos.
E a memória coletiva da comunidade confirma a gravidade do momento. Ilva Schier, que acompanha diariamente o comportamento do rio em nome da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), lembra que na estiagem de 2020 o nível do rio chegou a apenas 0,3 centímetros. Agora, em 2025, o alerta se repete. “Essa seca está preocupante. O nível vem baixando dia após dia e podemos dizer que, assim como a de 2020, esta já está entre as maiores que o Rio Negro enfrentou”, afirmou Ilva.
De cheias históricas a secas recorrentes
O que antes era sinônimo de enchentes e transbordamentos agora se tornou uma paisagem de escassez. Historicamente, o Rio Negro protagonizou episódios marcantes de cheia, que exigiram atenção de moradores e autoridades. Hoje, o desafio é outro: a repetição de longos períodos de estiagem, que vêm ocorrendo com mais frequência nos últimos cinco anos.
Essa mudança de padrão hidrológico preocupa especialistas e comunidades locais. O fenômeno não é exclusivo da região de Piên e arredores – faz parte de um contexto mais amplo de crise hídrica que afeta várias regiões do Brasil. As alterações climáticas, o desmatamento e a irregularidade das chuvas são fatores que contribuem para a nova realidade dos rios brasileiros.
Um chamado à consciência
A estiagem do Rio Negro é mais do que uma notícia local – é um alerta. A natureza tem dado sinais claros de que o equilíbrio climático está em transformação. E o Rio Negro, que já alagou ruas e campos no passado, agora grita em silêncio, pedindo chuva e atenção.
Enquanto a comunidade reza por dias nublados e o som da chuva nos telhados, a esperança permanece: de que o rio volte a correr forte, como nos velhos tempos, e que as futuras gerações possam conhecer o verdadeiro Negro – grandioso, abundante e vivo.