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Operação movimentou Fazenda Rio Grande e o Paraná nesta quinta-feira, data em que ocorreria uma sessão solene na Câmara de Vereadores daquele município. FOTO: MPPR |
A operação Fake Care, deflagrada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) na manhã de quinta-feira (9), segue repercutindo em todo o estado e escancara um suposto esquema de corrupção que pode ter desviado milhões de reais dos cofres públicos de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba.
O prefeito Marco Marcondes (PSD) foi preso preventivamente, junto de outros quatro investigados, entre eles Francisco Roberto Barbosa, ex-secretário de Saúde e atual secretário da Fazenda do município, e Alberto Martins de Faria, auditor do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR).
Operação Fake Care: o que se sabe até agora
A investigação, conduzida pela Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos (SubJur) e apoiada pelo Gaeco, apontou a existência de uma organização criminosa voltada à prática de crimes contra a administração pública — entre eles corrupção ativa e passiva, peculato, contratação ilegal e lavagem de dinheiro.
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Prefeito Marco Marcondes foi um dos alvos da operação FOTO: Divulgação |
Segundo o MP, a quadrilha utilizava um modelo de contratação direcionada de uma empresa chamada AGP Saúde, responsável por serviços de testagem domiciliar e levantamentos estatísticos. O contrato era feito sem licitação, e os valores pagos estariam muito acima dos praticados no mercado.
As investigações mostram que o esquema funcionava com base no superfaturamento de exames laboratoriais, realizados muitas vezes sem pedido médico ou controle público, contrariando normas do Sistema Único de Saúde (SUS). Em alguns casos, exames eram feitos em ruas, pontos de ônibus ou casas particulares, sem acompanhamento de profissionais de saúde.
Imagens e depósitos reforçam suspeitas
Além dos documentos e quebras de sigilo bancário, o Ministério Público obteve imagens que mostram o prefeito e outros envolvidos trocando bolsas e pacotes com dinheiro, que seriam de propina.
Logo após as reuniões registradas, alguns dos investigados teriam feito depósitos em espécie em contas pessoais, inclusive o próprio prefeito. Parte dos valores era fracionada em pequenos montantes para tentar escapar do monitoramento do COAF, órgão que rastreia movimentações suspeitas de dinheiro.
Apesar de o MP apontar, até o momento, um prejuízo superior a R$ 10 milhões, há a suspeita de que o rombo aos cofres públicos seja ainda maior, já que a empresa AGP Saúde mantém contratos com outras sete prefeituras paranaenses. Caso os mesmos métodos se repitam, o esquema pode ter se espalhado para além de Fazenda Rio Grande.
A relação política e o impacto regional
A prisão de Marco Marcondes causou um terremoto político na região metropolitana. Filiado ao PSD, partido do governador Ratinho Junior, o prefeito era considerado um dos nomes mais influentes da legenda na RMC, com trânsito entre lideranças estaduais e federais.
A operação repercutiu fortemente entre prefeitos, vereadores e lideranças políticas, levantando questionamentos sobre a fiscalização de contratos públicos e a influência política na destinação de recursos da saúde durante os últimos anos.
Fontes ligadas à investigação apontam que as relações da empresa investigada com outros municípios devem ser alvo de novas fases da operação, o que pode trazer desdobramentos ainda mais amplos nos próximos dias.
Prefeitura de Piên não tem contratos com a AGP
Importante ressaltar que a Prefeitura de Piên não mantem nenhum contrato com a empresa AGP Saúde. A informação foi repassada a reportagem do Piên em Notícias diretamente por assessores diretos do prefeito Maicon Grosskopf, que deixaram claro a questão, elencando que a referida empresa não presta serviços em Piên.
Posicionamentos oficiais
Em nota, a Prefeitura de Fazenda Rio Grande informou que “todas as informações e documentos solicitados pelas autoridades competentes foram prontamente fornecidos” e que o município “permanece colaborando integralmente com as investigações”.
O comunicado reforçou ainda que os serviços públicos seguem funcionando normalmente, apesar da prisão do chefe do Executivo e de integrantes do alto escalão.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) também se manifestou, confirmando que o auditor envolvido estava afastado desde o início do ano, em licença não remunerada, e que colaborará com o Ministério Público. O órgão adiantou que, após o fim da investigação, o caso será encaminhado à Corregedoria-Geral do TCE para a adoção das medidas cabíveis.
O avanço das investigações
A Operação Fake Care foi deflagrada após meses de apuração sigilosa. Foram cumpridos mandados de prisão e busca e apreensão em endereços de Curitiba e Fazenda Rio Grande, incluindo gabinetes na prefeitura, residências particulares e escritórios ligados aos investigados.
O Tribunal de Justiça do Paraná determinou ainda o afastamento das funções públicas dos servidores presos. Os cinco detidos devem responder pelos crimes de corrupção ativa e passiva, peculato, contratação direta ilegal e lavagem de dinheiro. O MP ressaltou que, por determinação judicial, parte do processo corre em sigilo, mas novos detalhes deverão ser divulgados em breve.
O que vem pela frente
Enquanto o caso movimenta os bastidores políticos da RMC, o clima é de tensão nas administrações municipais que mantêm contratos com a AGP Saúde. Há expectativa de que o Ministério Público amplie as investigações para outras cidades e de que novas operações possam ser deflagradas em breve.
A prisão de Marco Marcondes — até então um nome de peso no PSD e figura próxima de lideranças estaduais — marca um dos episódios mais graves de corrupção envolvendo gestores municipais no Paraná nos últimos anos.
O impacto da Fake Care vai muito além de Fazenda Rio Grande: reacende o debate sobre transparência, controle de gastos públicos e ética na política, num momento em que a sociedade exige respostas rápidas e rigorosas das autoridades.