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Setor madeireiro é um dos mais afetados com a queda nas exportações devido ao tarifaço. Foto: Iano Andrade/CNI |
A política tarifária imposta pelos Estados Unidos começa a causar impactos severos na economia de Santa Catarina. O chamado tarifaço, implementado pelo governo norte-americano sobre produtos brasileiros, atingiu em cheio o setor moveleiro e madeireiro — base da indústria exportadora do Norte catarinense.
Com a retração nas vendas externas, especialmente para o mercado americano, empresas enfrentam dificuldades financeiras, e o reflexo direto já é sentido nas demissões em massa e até no fechamento de indústrias tradicionais.
Efeitos diretos no emprego
Dados do CAGED mostram que, apenas em agosto, primeiro mês de vigência das novas tarifas, Santa Catarina perdeu 1.754 vagas formais na indústria, sendo 1.236 apenas no setor de móveis e madeira — o mais dependente das exportações para os Estados Unidos. Municípios como São Bento do Sul, Lages e Caçador estão entre os mais afetados.
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No mês anterior cerca de 300 trabalhadores da Artefama foram demitidos por conta das quedas nas exportações de móveis para os EUA. Fato repercutiu em toda Santa Catarina. |
A Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) alerta que, caso as tarifas sejam mantidas, o Estado pode perder até 20 mil postos de trabalho até 2027, com impacto estimado de R$ 1,2 bilhão no PIB. “Este é, infelizmente, um movimento já esperado. A manutenção das tarifas coloca em risco milhares de empregos e a sustentabilidade de diversas empresas catarinenses”, destacou o presidente da FIESC, Gilberto Seleme.
Empresas sentem o baque e reduzem operações
Em São Bento do Sul, uma das cidades mais dependentes da exportação de móveis, a tradicional Artefama, com mais de 80 anos de história, anunciou a demissão de cerca de 300 funcionários no mês anterior. Em nota oficial, a empresa afirmou que está passando por um processo de reestruturação para se adequar ao novo cenário de mercado. “Será necessário reduzir grande parte de nossa equipe para manter a operação viável e preparar a empresa para um novo ciclo de crescimento. Essa foi uma decisão difícil, mas necessária”, diz o comunicado emitido pela Artefama.
Nos bastidores, trabalhadores relatam dificuldades financeiras diante da falta de pagamento dos acertos trabalhistas. Muitos afirmam não saber como vão arcar com despesas básicas, como aluguel e alimentação.
Fechamento histórico em Santa Catarina
Além do impacto direto do tarifaço, a economia catarinense enfrenta também o fechamento do Grupo Breithaupt, uma das empresas mais tradicionais do Estado, fundada em 1926. A companhia, que possuía operações em Jaraguá do Sul e São Bento do Sul, anunciou o encerramento definitivo de suas atividades nesta segunda-feira (6).
Em nota, o grupo explicou que a decisão decorre de desafios econômicos e estruturais internos, não relacionados diretamente ao tarifaço, mas reflexo da estagnação da economia brasileira e da dificuldade de manter margens de operação sustentáveis.
“Após quase 100 anos de história, optamos pela decisão mais responsável e transparente, honrando nossa trajetória e todos que fizeram parte dela”, diz o comunicado oficial.
Exportações em queda acentuada
Segundo levantamento da FIESC divulgado na mídia catarinense as exportações para os Estados Unidos caíram 55% em setembro, em Santa Catarina, totalizando US$ 78,7 milhões.
Os produtos mais afetados foram:
- Partes de motor: retração de 57,1%;
- Móveis: queda de 14,5%;
- Motores elétricos: redução de 11,9%.
Apesar da queda geral, outros setores tiveram crescimento, como a soja (+21,2%), carne suína (+19,1%) e carne de aves (+8,5%), impulsionados por novos mercados, como Argentina, Japão e Chile.
Ações e reação
Para tentar conter os efeitos da crise, a FIESC lançou o programa DesTarifaço, com foco em apoiar as indústrias afetadas. A iniciativa oferece consultoria para diversificação de produtos e mercados, suporte para acesso a crédito e capacitação profissional.
Além disso, a entidade tem articulado com o governo estadual e federal e mantido diálogo com autoridades norte-americanas para tentar reverter ou ao menos mitigar as tarifas.
Nesta segunda-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por videoconferência com o presidente Donald Trump, solicitando a revisão das taxas impostas. A conversa, que durou cerca de 30 minutos, gerou expectativas, mas nenhuma promessa concreta foi firmada até o momento.
Incerteza e apreensão
Enquanto o impasse persiste, cresce o temor de novas demissões e do enfraquecimento da cadeia produtiva que sustenta boa parte da economia de Santa Catarina. A região Norte do Estado, conhecida por sua força industrial, vive um momento de apreensão.
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61,4% das indústrias de SC estão prospectando novos mercados para reduzir exposição aos Estados Unidos. (foto PortonaveDivulgação) |
O cenário mostra que o tarifaço ultrapassa as fronteiras da política internacional e chega com força ao cotidiano de milhares de famílias catarinenses e até mesmo de Piên, que agora lutam para manter o emprego, a renda e a esperança em dias melhores. Vale lembrar que muitos trabalhadores de Piên também ocupavam cargos na Artefama sendo que outros trabalham em emrpesas que vivem dias de incertezas e preocupações com suas exportações diminuindo cada vez mais.
Fechamento de empresas no Brasil nos últimos anos
O número de empresas fechando no Brasil aumentou significativamente em 2023 e 2024, com o país batendo recordes de mortalidade empresarial e um saldo negativo entre aberturas e fechamentos desde o final de 2021. Os principais fatores incluem o cenário de juros altos, inflação persistente, crédito restrito, alta carga tributária, burocracia, e a dificuldade de manter os negócios, o que leva a um ambiente de negócios considerado inóspito, apesar da iniciativa empreendedora brasileira.
Dados sobre o fechamento de empresas:
2023: Mais de 2,15 milhões de empresas fecharam no Brasil, um aumento de 25,7% em relação ao ano anterior. Isso equivale a aproximadamente 4 empresas fechando por minuto.
1º Semestre de 2023: Cerca de 428 mil empresas (micro, pequenas, médias e grandes) encerraram suas atividades.
Desde 2021: O fechamento de empresas tem sido mais frequente do que a abertura, com mais de 750 mil empresas saindo da economia brasileira nesse período.
Fatores que contribuem para o fechamento:
Fatores Macroeconômicos: Juros altos e inflação: O cenário econômico com juros elevados e inflação persistente dificulta a manutenção e expansão dos negócios.
Crédito restrito: O acesso ao crédito está mais restrito, o que afeta diretamente a capacidade de investimento das empresas.
Fatores Estruturais do Ambiente de Negócios: Carga tributária e complexidade fiscal: A alta carga de impostos e a burocracia complexa são um obstáculo para a manutenção dos negócios, especialmente para os pequenos.
Dificuldade de expansão: O risco trabalhista e a necessidade de conhecimento contábil desde o início dificultam a expansão e a entrada de novos empreendedores no mercado.
Impactos de Crises Anteriores:
Pós-pandemia: O ambiente empresarial ainda sente os impactos da pandemia de Covid-19 e de outras crises.
Endividamento: Muitas empresas não conseguiram sobreviver devido ao endividamento e à inadimplência.