Mais de sete mil toneladas de fumo devem ser comercializado na safra atual

Na propriedade do agricultor Bento Lima, pessoal estão manilhando e classificando fumo

Mais uma safra de tabaco chega a sua fase final. Nos próximos dias, estima-se que todas as lavouras com tabaco na região – São Bento do Sul, Rio Negrinho, Campo Alegre e Piên – estejam com suas plantas colhidas. Como o tabaco colhido ainda precisa passar por uma etapa de secagem nas estufas, o trabalho ainda continua pelas próximas semanas, até que os produtores possam vender o produto às empresas fumageiras.

O produtor Maik Diego de Lima reside na comunidade de Boa Vista, em Piên, e em sua propriedade a colheita terminou ainda na semana passada. O fumo já está nas estufas para secagem, processo que demora até sete dias sob intenso calor. O fumicultor explica que na secagem é preciso ter muita atenção. “Não pode faltar ventilação dentro das estufas elétricas”, destaca.

Maik explica ainda que aprendeu sobre a cultura do tabaco com seus pais, Bento e Anésia de Lima, os quais começaram a trabalhar nas lavouras de fumo de suas famílias com apenas seis anos de idade. “Naquela época era assim. Todos os filhos ajudavam os pais nas lavouras. Aprendemos a trabalhar com o tabaco e outras culturas com nossos pais. Durante todas as nossas vidas nunca saímos da agricultura. Hoje cultivamos além do tabaco, soja, milho e trigo”, conta Bento.

Agricultor Bento classificando folhas de tabaco recém saídas da secagem

Conforme a família Lima, no tabaco as expectativas acabaram se confirmando, colhendo aproximadamente 16 toneladas, o que vinha sendo esperado após o plantio de 90 mil pés. "A safra começou com falta de chuva, depois choveu demais. No fim do ano passado o clima se manteve equilibrado. A nossa sorte foi que este ano não pegamos nenhuma chuva de granizo. Sendo assim, estamos satisfeitos com a produção”, avalia Maik. 

Quanto ao preço, que sempre é um assunto que não agrada a maioria dos produtores, a família Lima diz estar satisfeita. Há alguns anos eles mudaram de empresa para quem produzem, isso porque os preços estavam acima da média das demais fumageiras. "O reajuste neste ano variou entre 3% e 5%, dependendo da empresa. Mas teve empresa que manteve a tabela do ano passado. O que notamos é que o custo de produção aumentou muito. Os camaradas que no ano anterior nos ajudavam a colher, estavam cobrando R$ 100 por dia, neste ano, o preço para diaristas nas lavouras chegou a R$ 150 e 160 por dia”, conta.

A família Lima ainda vai levar mais alguns dias classificando, manilhando (fardos pequenos) e enfardando a produção para encaminhar às empresas nas próximas semanas. Mas conforme Bento, novas colheitas já estão previstas para as próximas semanas. “A partir do dia 10 de abril temos 30 hectares de soja para colher e depois disso ainda vem o milho. Depois de colhida a soja e o milho, começamos a preparar os canteiros com as mudas de tabaco, para a partir de outubro, começarmos tudo de novo”, explica.

Outros custos
O técnico agrícola Jair Zeferino, da Emater de Piên, acompanhou a evolução e o fim da safra, e explica que a energia elétrica foi outro custo que pesou muito na produção neste ano. Como as estufas de secagem têm seus sistemas de ventilação movidos a energia elétrica, muitos agricultores viram o valor das faturas subir muito. “Também tivemos um grande reajuste no custo do adubo. Um saco deste produto, que ano passado custava algo entre R$ 60 e R$ 70, foi para R$ 100 nesta safra. Também tivemos o aumento no preço do frete. Todos esses fatores aumentaram muito o custo de produção na lavoura”, detalha. 

Apesar de alguns percalços como clima e os fatores que levaram ao aumento do custo de produção, Jair diz que a safra superou as expectativas. “Creio que vamos colher em Piên, pela área plantada, umas sete mil toneladas de tabaco neste ano. Conversando com os representantes das empresas, acredito que devemos atingir cerca de 90% da produção que foi estimada no início da safra”, acrescenta.

Família Lima diz que ainda vai dias para classificar e manilhar toda a produção
Jair explicou ainda que apesar de algumas ocorrências de chuva de granizo e tempestades com ventos em algumas regiões de Piên, o fator climático não prejudicou a safra. “Apesar da estiagem no início, as muitas chuvas depois disso e um certo frio fora de época que ocorreu em novembro, creio que a safra irá atingir os 90% de expectativa. Pessoal das empresas disse que o tabaco não está com uma qualidade tão boa quanto era esperado, mas isso se deve ao desequilíbrio climático no início do plantio. Mesmo assim, será uma safra praticamente normal”, conclui. 

Profissão agricultor
A família Lima reflete a realidade de milhares de famílias da região. Em Piên a tradição do tabaco é algo muito forte. Conforme dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), em 2017, mais de 11 mil toneladas de tabaco foram colhidas em Piên, algo que movimentou mais de R$ 73 milhões na economia local. A cidade também é conhecida pela qualidade do fumo cultivado por conta do clima tropical. A Souza Cruz, uma das grandes indústrias fumageiras que atuam na região, relatou por meio de seus representantes em diversos eventos ocorridos com os agricultores pienenses que o tabaco produzido no município é o melhor do mundo. Tanto que a maior parte da produção é exportada. 

Maik, que está vivendo sua juventude na agricultura, diz que apesar do trabalho ser difícil na cultura do tabaco, principalmente nas colheitas que ocorrem entre janeiro e março, nos meses de verão, a vida no campo é promissora. “Eu até tentei sair e trabalhar fora, mas acabou não dando certo e voltei a ajudar meus pais. Aqui trabalhamos em casa, todos juntos. Creio que nunca mais irei sair da agricultura. É uma coisa até meio complicada, pois existem anos em que somos prejudicados por conta do granizo e de tempestades, mas gosto muito do que faço e pretendo levar este trabalho”, disse. 

Rosilda de Fátima Batista é uma das ajudantes da família Lima. Ela conta que trabalha há muitos anos no local e não se arrepende. “Sempre nessas épocas eles me chamam e eu venho ajudar a colher e manilhar fumo. Faço isso desde que era criança, aprendi com meus pais. Gosto de trabalhar com a fumicultura. Como já faço isso desde pequena, para mim é tranquilo. Faço outras coisas também mas já venho trabalhando na fumicultora em épocas de colheita há mais de dez anos”, conta. 

Apesar da correria em certas épocas, da preocupação quando às tormentas que se anunciam e do fato de ter que trabalhar alguns dias sob calor escaldante, dona Nésia, como é conhecida, garante que está feliz e que gosta de atuar na agricultura. “Também faço isso desde pequena. Comecei a trabalhar na roça com meus pais, com seis anos. Eles que me ensinaram tudo o que sei. Assim também foi com meu marido”, destaca.