Otimismo no campo para a safra agrícola que inicia

Lavoura de agricultor pienense em terras situadas na vizinha Campo Alegre
Fim de ano, quando inicia o verão, é um período muito importante para a agricultura na região, principalmente para quem se dedica ao cultivo de soja, milho e tabaco, as culturas agrícolas predominantes em São Bento do Sul, Campo Alegre, Rio Negrinho e Piên. Como acontece anualmente, em dezembro grande parte dos agricultores inicia a colheita do “baixeiro”, que são as folhas baixas dos pés de fumo. Em janeiro a colheita de tabaco se intensifica, seguindo até fim de fevereiro e começo de março, quando também ocorre a colheita da soja. Já entre março e abril é a colheita do milho, que finaliza a safra.

Uma das culturas mais antigas na região é o tabaco. Somente em São Bento do Sul, Campo Alegre e Rio Negrinho estão cadastrados mais de 250 agricultores que anualmente produzem cerca de 800 toneladas. Piên é a cidade com o maior número de fumicultores, com mais de 1.030 cadastrados, conforme registros da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), e eles são responsáveis pela maior produção regional, equivalente a 10 mil toneladas.

O clima da região é um dos pontos positivos para o cultivo do tabaco, além da topografia das lavouras. Porém, as condições climáticas também costumam ser a grande vilã nas safras, não apenas para o tabaco, como para a soja e o milho. Justamente por este motivo, o agricultor Junior Antônio de Assis, de Trigolândia, em Piên, desenvolveu junto de sua família uma nova técnica, a qual consiste em cultivar suas lavouras de tabaco em várias partes da região.

Nesta safra, ele e seus irmãos cultivaram 275 mil pés de tabaco, divididos em lavouras situadas de Trigolândia até comunidades agrícolas em Campo Alegre. Uma das áreas fica na localidade campo-alegrense de Avenquinha, contendo 102 mil pés de tabaco. “É uma área arrendada onde não era cultivado tabaco há mais de 25 anos. Por isso a plantação está muito bonita e se desenvolvendo bem”, comemora. 

A técnica da família Assis já vem dando seus resultados. Isso porque nos últimos dias uma grande lavoura de Junior e seus irmãos, localizada na comunidade de Fundão, em Piên, foi atingida por uma chuva de granizo. Conforme o agricultor, por sorte a lavoura tinha seguro, pois quase 100 mil pés foram perdidos. “Tivemos um grande prejuízo por conta do granizo nesta área. Por isso, resolvemos desde os últimos anos espalhar nossa produção em várias partes da região. O segredo é esse, pois assim ainda temos outras áreas onde a colheita poderá começar já nas próximas semanas”, explica o jovem produtor, que tem apenas 28 anos de idade e desde sua infância trabalha no cultivo do tabaco. 
Nos últimos anos a família Assis já chegou a colher, conforme Junior, mais de 50 mil quilos de tabaco em uma única safra. Neste ano, por conta do granizo, a produção será afetada. Mesmo assim, as expectativas ainda são boas. “O clima está bom, falta ainda um pouco mais de chuva. Até agora, pelo menos nas lavouras em Campo Alegre, tudo normal. Espero poder fazer uma boa colheita”, disse o fumicultor.

Soja, milho e tabaco

Seu Rufino Telma
O agricultor Rufino Telma tem sua propriedade localizada na comunidade rural de Capinzal, em Campo Alegre. E ele também está animado para a próxima safra, apesar da variação do preço das commoditie agrícola que cultiva, principalmente a soja e o milho. Ambas sofrem com a variação do dólar e das negociações de compra no mercado externo. Ele conta que nesta safra cultivou 26 hectares (cada hectare corresponde a um campo de futebol) de soja, 22 hectares de milho e 3 hectares de fumo. Somente na soja, na safra anterior, Rufino colheu 62 mil toneladas. “Na soja, nesta safra, creio que irei colher uma média próxima ao que foi colhido no ano passado. Já o tabaco, plantamos 38 mil pés”, afirma. 

Rufino trabalha há quase 70 anos nas lavouras e explica que uma cultura com fraco desempenho nos últimos anos é a do feijão. “Plantei 20 quilos neste ano e perdi tudo. Logo depois que plantamos veio aquelas quatro semanas de chuva. Na verdade, hoje em dia, o feijão compensa mais, pelo menos para os agricultores desta região, comprar nos mercados do que plantar, pois o custo do cultivo é muito alto”, lamenta o produtor.

Alguns dias antes do Natal, Rufino e seus dois filhos começam a colher as primeiras folhas de tabaco. Depois de colhidas, elas serão levadas para estufas de secagem, para só então serem entregues e vendidas nas industrias fumageiras. Do Natal até quase o fim do verão a rotina da família Telma será árdua, enfrentando dias de muito calor e torcendo para que o clima se mantenha em equilíbrio. “Mas é o gostamos de fazer. Uma certa vez até tentei largar da agricultura para ir trabalhar em uma fábrica. Mas não deu certo. Me criei na roça deste pequeno”, contou.

Tudo caminha para uma boa safra

O engenheiro agrônomo da Secretaria de Agricultura de Campo Alegre, Gilson Brunquel, explica que a safra, neste ano, começou atrasada devido ao período de chuvas que se prolongou durante algumas semanas entre setembro e outubro. “Se a chuva voltar por esses dias, a safra fica normal. Apesar de ter começado um pouco tímida, tudo caminha para termos boas colheitas. Creio que a produção não irá baixar e com relação ao preço, vejo que temos tabelas razoáveis diante de toda variação do mercado agrícola. Em Campo Alegre, a área do cultivo de milho aumentou muito neste ano, com 2,5 mil hectares. Já a soja ficou em 2 mil hectares, enquanto que o tabaco diminui um pouco, fechando a área plantada em 330 hectares”, detalha.

A secretária de Agricultura de Campo Alegre, Margarete Augustim, também está animada com o início dos períodos de colheita. Ela conta que nas últimas semanas visitou muitos agricultores para conhecer as demandas e necessidades do homem do campo, tendo em vista que assumiu o cargo recentemente, no dia 10 de outubro. “Com a ajuda do Gilson (engenheiro agrônomo) e de todos da secretaria estou me adaptando e conhecendo cada vez mais os anseios de nossos agricultores para fazermos, dentro da medida do possível, tudo para ajudá-los”, conta.

Margarete ainda destacou o bom trabalho que vem sendo realizado pela Secretaria de Obras, na readequação das estradas rurais que cortam o município, que segundo ela, estão em ótimas condições de conservação, a fim de garantir eficiência e segurança no escoamento da safra. “Agradeço ao secretário de Obras, João Cubas, que não vem medindo esforços para mantermos nossas estradas rurais em boas condições”, conclui.

Soja e milho

Segundo as estimativas do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), a soja continua ganhando espaço nas lavouras catarinenses. A área plantada no Estado já é de 708 mil hectares e a produtividade esperada é de 3,5 toneladas/hectare. Sendo assim, o Estado já espera mais uma safra recorde, com estimativas de colher 2,52 milhões de toneladas do grão, 5% a mais do que na safra 2016/17. O crescimento é explicado pelo aumento de 8% na área plantada, ocupando as áreas antes destinadas ao plantio de milho, pastagens, feijão e fruticultura. Já com relação ao milho, a safra 2018/19 em Santa Catarina deve colher 2,7 milhões de toneladas, 8,16% a mais que na anterior, segundo o Cepa. A produtividade média das lavouras de milho está estimada em 8,15 toneladas por hectare.